Focas e lobos-marinhos da Bacia de Santos estão sendo monitorados por satélite
Ação é executada pela Univali e integra Projeto de Monitoramento de Praias

O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), coordenado e executado pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali) em Santa Catarina e no Paraná, incorporou uma atividade inédita ao seu escopo: o rastreamento por satélite de pinípedes (focas e lobos-marinhos). A iniciativa, que iniciou há cerca de um mês, visa acompanhar o retorno dos animais reabilitados ao ambiente natural e compreender o seu comportamento e uso de habitat.
As informações contribuem para o aprimoramento das práticas de reabilitação e para a conservação das espécies. Esta nova atividade surgiu a partir de uma demanda do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e está sob responsabilidade da Univali em toda a área abrangida pelo PMP-BS.

Para estruturar o processo, foi estabelecida uma parceria com um especialista no rastreamento de pinípedes, Guilherme Bortolotto, veterinário e professor da Aberystwyth University, no Reino Unido. As equipes do PMP-BS passaram por uma formação com o especialista e tiveram acesso a todas as etapas envolvidas no monitoramento via satélite, incluindo protocolos de segurança, técnicas de aplicação e estratégias de acompanhamento dos sinais transmitidos.
De acordo com o coordenador do PMP-BS Área SC/PR, o professor e pesquisador da Univali, André Barreto, a iniciativa representa um avanço científico importante para o projeto. “O rastreamento por satélite nos permite ir além do resgate e da reabilitação. Agora conseguimos acompanhar o que acontece com os animais depois que eles voltam ao mar, entendendo como se comportam, por onde circulam e quais ambientes utilizam. Esse conhecimento é essencial para avaliarmos a eficácia do processo de reabilitação e para embasar ações de conservação mais assertivas”, explica.

Os primeiros animais a receberem transmissores foram indivíduos que passaram pelo processo de reabilitação no Instituto Gremar, executora do PMP-BS no Trecho 9, localizado em São Paulo. O acompanhamento desses indivíduos fornecerá dados inéditos sobre o deslocamento dessas espécies no Atlântico Sul e contribuirá para a construção de estratégias de manejo que considerem a realidade ecológica das populações que chegam ao litoral brasileiro.
“Essa é uma oportunidade de unir ciência aplicada e conservação. Estamos utilizando tecnologia de ponta para gerar informações que terão impacto direto no cuidado com a vida marinha e na proteção de espécies que, apesar de não se reproduzirem em nosso litoral, utilizam a costa brasileira como rota migratória ou área de descanso”, completa Barreto.

Primeiros rastreadores aplicados
Um lobo-marinho-antártico (Artocephalus gazela) e um elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina) foram os animais escolhidos para receber os primeiros transmissores. Ambos foram resgatados no litoral de São Paulo.
O elefante-marinho-do-sul, um macho juvenil, apresentava uma laceração superficial próxima às nadadeiras peitoral direita, epibiontes pelo corpo e quadro de exaustão. Ele foi resgatado em junho deste ano, próximo à Praia de Santa Cruz dos Navegantes, em Guarujá.
Já o lobo-marinho-antártico foi resgatado no início de abril. É um macho adulto e precisou passar por um processo de reabilitação intenso. Por ser uma espécie antártica, permaneceu em reabilitação até que as condições oceano-meteorológicas fossem favoráveis para sua soltura e retorno à colônia.
Após aplicação dos rastreadores, os animais foram soltos no dia 30 de agosto, a cerca de 10 milhas náuticas da Laje de Santos (aproximadamente 50 km da costa), em área de zona de amortecimento do setor Itaguaçu – região do entorno de uma Unidade de Conservação, mais preservada e adequada para a devolução.

A partir deste momento, as equipes iniciaram o acompanhamento dos sinais emitidos pelos transmissores. Embora o transmissor do lobo-marinho tenha parado de emitir sinais no segundo dia, o elefante-marinho continua enviando sinais e já se deslocou por mais de 500km. Inicialmente, o animal explorou a área onde foi solto e depois se dirigiu para águas mais profundas, perto da quebra da plataforma continental. Nos últimos 15 dias, tem explorado essa região e, atualmente, está se deslocando para o sul. No dia 19 de setembro já estava chegando ao norte de Santa Catarina.
O PMP-BS é uma ação de atendimento à condicionante ambiental do licenciamento federal da produção de petróleo e gás natural na Bacia de Santos, conduzida pelo Ibama e financiada pela Petrobras. O projeto realiza o monitoramento diário da fauna marinha em mais de dois mil quilômetros de costa, entre Laguna (SC) e Saquarema (RJ), e envolve dezenas de instituições de pesquisa, universidades e organizações ambientais.