Pesquisa avalia usabilidade de aplicativo voltado à seletividade alimentar no Transtorno do Espectro Autista
Distúrbio afeta até 86% das crianças diagnosticadas com TEA

A criação de conteúdos para treinamento parental e a usabilidade de um aplicativo para celular voltado à seletividade alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são os objetivos de um estudo desenvolvido por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
A pesquisa, desenvolvida pela psicóloga e mestranda Letícia Corrêa Ferreira Heck Silva e orientada pelo professor João Rodrigo Maciel Portes, visa avaliar a usabilidade da ferramenta tanto por profissionais quanto por familiares de crianças com TEA.
A pesquisa é um recorte do projeto Capacitação Familiar Digital: Manejo de Seletividade Alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista e recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), por meio do Edital de Chamada Pública nº 54/2022.

“Os distúrbios alimentares afetam até 86% das crianças com TEA e, embora as intervenções em Análise do Comportamento Aplicada apresentem eficácia, o acesso é limitado, principalmente em países em desenvolvimento. O treinamento parental por meio de aplicativos surge como uma alternativa viável, entretanto, a avaliação da usabilidade desse tipo de recurso ainda é pouco investigada. Neste sentido, o estudo desenvolvido no PPGP visa promover o aprimoramento e a continuidade de uma linha de pesquisa que vem sendo desenvolvida desde 2013 envolvendo diferentes universidades do Brasil”, explica o professor João Rodrigo Maciel Portes.
Em âmbito nacional, a pesquisa envolve o Grupo Gradual, o Centro de Atenção Integral em Saúde Mental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O aplicativo Meu Diário TEA foi estruturado em 24 etapas dentro de um modelo de treinamento de habilidades comportamentais. A tecnologia, disponível na plataforma do Google Play©, já havia sido utilizada anteriormente para o treinamento parental da comunicação funcional e de comportamentos disruptivos e, nesta fase, foi reestruturada para fornecer o treinamento parental em relação à seletividade alimentar.
A pesquisa desenvolvida na Univali foi organizada em três fases e envolveu uma equipe multidisciplinar. A primeira etapa buscou mapear e analisar a literatura existente sobre o tema. Após a revisão de escopo, os pesquisadores elaboraram um protocolo de treinamento parental composto por 21 módulos, desenvolvidos a partir do método Behavioral Skills Training (BST) e planejados para serem implementados no aplicativo.
A última etapa validou a usabilidade do aplicativo por meio da avaliação de especialistas em Análise do Comportamento Aplicada e de familiares de crianças com TEA.
“Os especialistas utilizaram protocolos de avaliação para verificar a clareza, a funcionalidade e a aplicabilidade do material. Posteriormente, as mães utilizaram o aplicativo em suas rotinas, responderam a um questionário e participaram de um grupo focal, contribuindo com suas percepções e sugestões de aprimoramento. Os resultados preliminares indicam que o aplicativo apresenta boa usabilidade, sendo considerado útil e recomendado tanto por especialistas quanto pelos usuários finais”, salienta a pesquisadora.
O professor orientador enfatiza que o estudo reforça a importância de investir em recursos digitais acessíveis, fundamentados em evidências científicas e que possam apoiar famílias no enfrentamento de desafios cotidianos relacionados à alimentação de crianças com TEA.
“Ao propor um recurso digital que amplia o acesso de famílias independentemente de barreiras geográficas ou socioeconômicas, o aplicativo alinha-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e contribui para a promoção da saúde, principalmente se considerarmos que, no contexto brasileiro, os serviços especializados destinados a essa população são insuficientes diante da crescente demanda”, complementa Portes.
A partir de agora, a pesquisa entra na fase de avaliação da eficácia do aplicativo. Após essa etapa, que já está sendo executada por outros pesquisadores do PPGP, a expectativa é que o trabalho possa ser finalizado e divulgado para uso do público geral.
“Eu acredito muito no treinamento parental e no impacto que essa pesquisa pode ter no dia a dia de famílias que não têm acesso a recursos para custear uma terapia intensiva para crianças com TEA. Esperamos que os reflexos do estudo possam, em breve, atender às demandas reais de quem busca tratamentos eficazes para seus filhos”, finaliza Letícia.
A dissertação de Letícia Corrêa Ferreira Heck Silva será submetida à banca do PPGP no mês de outubro. A revisão de escopo da pesquisa foi publicada em setembro na revista Ciencias Psicologicas da Universidad Catolica del Uruguay.
A pesquisa é o tema do 16º episódio do projeto Minuto da Ciência, conteúdo multiplataforma produzido pela Gerência de Marketing e Comunicação junto à Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Inovação, para dar visibilidade aos resultados das pesquisas científicas produzidas pelo corpo docente e discente da Univali.
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