Egressa da Univali lança livro que une psicanálise e poesia em versos sobre amor, luto e escuta de si
Obra “Afetos in-versos”, da psicóloga e doutoranda Thamara Mir, estreou no sábado (25) na Casa da Cultura Dide Brandão, em Itajaí, e percorre festivais literários em SC

Foto: Divulgação | #PraTodosVerem: Imagem de Thamara Mir sentada à mesa com exemplares do livro "afetos in-versos" em primeiro plano, durante um evento de lançamento.A relação entre ciência e arte, escuta e palavra, corpo e verso ganha novas camadas na estreia literária da psicóloga e egressa da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Thamara Mir, com o livro Afetos in-versos, lançado no último sábado (25), na Casa da Cultura Dide Brandão, em Itajaí.
A publicação, selecionada em chamada nacional de originais inéditos da editora independente M.inimalismos, de São Paulo, reúne poemas inspirados na escuta clínica, na escuta de si e em vivências de amor, perda e ressignificação.
Com 79 páginas, o livro é atravessado por conceitos da psicanálise, campo no qual Thamara constrói sua trajetória acadêmica e profissional — ela é doutoranda em Saúde Coletiva e atua como psicóloga na Secretaria Municipal de Saúde de Itajaí. Além disso, integrou o corpo docente do curso de Psicologia da Univali como professora convidada durante um breve período.
“Escrevo desde a adolescência como meio de expressão e elaboração, dando forma e contorno ao que escapa, ao indizível, ao que pulsa, marca e se inscreve. A formação em Psicologia inevitavelmente transforma a maneira de ver, interpretar e sentir o mundo, e isso transborda para a escrita”, afirma a escritora.
A coletânea é um convite à pausa e ao mergulho. Em tempos de ruído emocional e aceleração cotidiana, a autora aposta na palavra como espaço de escuta e elaboração. “A ciência moderna ainda não inventou um medicamento tão tranquilizador quanto algumas poucas e boas palavras”, diz ela, citando Freud. “A literatura, e especialmente a poesia, exerce efeitos terapêuticos e transformadores tanto para quem escreve quanto para quem lê”, entusiasma-se. “Sobretudo o processo de ressignificação da dor e do sofrimento por meio da palavra, falada ou escrita, é para mim, uma forma de poesia”, conta.
Foto: Divulgação | #PraTodosVerem: Foto de um livro de capa rosa choque intitulado "afetos in-versos" por Thamara Mir, em um cenário de folhas de outono.A publicação também ecoa a influência familiar da arte. Filha do artista plástico Antônio Mir (1950–2018), espanhol naturalizado brasileiro que marcou a cena artística de Joinville e São Francisco do Sul, Thamara cresceu entre livros, tintas e exposições. “Cresci cercada de arte, tanto pelo legado do meu pai quanto pela profissão da minha mãe, professora. A sensibilidade poética, acredito, nasce desses instantes em que a beleza se revela no inesperado, como uma planta brotando entre pedras iluminada por um raio de sol, cena que vivi com meu pai e nunca esqueci”, relembra encantada.
Foto: Divulgação | #PraTodosVerem: Foto de Antonio Mir (na imagem, com meia-idade em uma camiseta branca), em um estúdio de arte, apoiado em um balde de tinta cercado por latas e pincéis em uma mesa cheia de tinta.Da formação universitária, a autora guarda memórias e aprendizados que moldaram sua escuta. “A Univali está presente em tudo o que escrevo. Tive professores marcantes, como a Gisa (Geselda Baratto), referência em Psicanálise e Ética, que foi orientadora, mentora e amiga. A universidade foi, para mim, um espaço de afeto e de formação integral, humana e sensível”, destaca.
Com prefácio de Rodrigo Domingos, escritor e produtor cultural de Joinville, posfácio do tio, escritor e pesquisador Luís Mir, e orelha assinada pela psicanalista Isloany Machado, Afetos in-versos já prepara uma rota de lançamentos por Santa Catarina. O livro será apresentado no Festival Literário de Navegantes (7/11), no Festival Literário de Itajaí (8/11) e no encerramento da Exposição Futuros Acessíveis (22/11), na Galeria Cidade das Águas, em Joinville.
A obra, vendida a R$ 45 pelo site da editora, é uma reunião de experiências que entrelaçam arte, clínica e humanidade — campos que, para Thamara, compartilham a mesma matéria-prima: o afeto. “Clínica e poesia se entrelaçam: ambas dão voz, forma e contorno ao que pulsa no avesso da superfície”, diz.
No trecho escolhido pela editora para a contracapa,
a autora resume o espírito do livro e o gesto de publicar:
“todavia não acontecer
que não se perca a ternura
já que o simples ato de escrever
é sempre um ato de bravura.”
Foto: Divulgação | #PraTodosVerem: Foto de rosto de uma mulher loira de cabelos soltos e sorridente, identificada como Thamara Mir.Entre memórias, afetos e palavras,
Thamara Mir revisita suas origens e
reflete sobre o poder da escuta poética
Entrevista | “A poesia é a escuta do que ainda não sabemos dizer”
Univali | Seu livro se chama Afetos in-versos. Como nasceu esse título — e o que ele significa para você?
Thamara | O título surgiu da própria experiência de escrever. Eu percebia que os afetos mais intensos — amor, luto, desejo, ausência — sempre se manifestavam pelo avesso das palavras. O “in-verso” é esse lugar em que o sentir se dobra sobre si mesmo, onde a palavra tenta dizer o indizível. É também um jogo: falar de afeto é, inevitavelmente, falar do que escapa à razão.
Univali | Você é filha do artista plástico Antônio Mir. Que herança estética e emocional a arte do seu pai deixou em você?
Thamara | Meu pai foi uma das maiores influências na minha vida. Cresci entre ateliês, tintas e conversas sobre arte. Ele tinha uma capacidade impressionante de enxergar beleza nas fissuras, nos acasos, nas coisas que o tempo desgasta. Acho que herdei isso, essa sensibilidade de encontrar poesia nos interstícios.
Há uma memória muito viva: um almoço de domingo em São Francisco do Sul, quando um raio de sol iluminou uma planta que crescia entre as pedras de uma parede antiga. Meu pai e eu paramos tudo para contemplar aquele instante. Esse olhar para o efêmero que ele sempre carregou, para o detalhe, moldou minha forma de escrever.
Univali | E sua mãe, enquanto professora, também influenciou no seu modo de pensar a poesia?
Thamara | Com certeza. A sensibilidade e o olhar humanista da minha mãe sempre me atravessaram. Ela me ensinou que o conhecimento não é só o que se aprende nos livros, mas também o que se sente e se compartilha. Acho que a educação e a poesia partilham o mesmo gesto: ambas buscam criar pontes entre mundos.
Univali | E quanto à importância da Univali na sua formação, que memórias afetivas te acompanham dessa época?
Thamara | Lembro das conversas nos corredores, das tardes no gramado, dos cafés no bar do Pedro e dos debates intensos nas aulas, principalmente de Psicanálise. A professora Geselda Baratto teve um papel decisivo na minha trajetória. Foi orientadora, referência e presença constante, mesmo depois da formatura. É o tipo de professora que não ensina apenas teoria, mas uma ética do cuidado, da escuta e da palavra.
Univali | Há alguma lembrança especial da tua vivência universitária para compartilhar?
Thamara | Sim! Estávamos organizando um congresso e precisávamos de uma frase que expressasse o espírito do evento. Eu sugeri: “Ser diferente não é ser de outro mundo.” Meus colegas adoraram e ela acabou virando slogan. Hoje, percebo como essa frase dialoga com tudo o que venho escrevendo. Ela fala sobre singularidade, alteridade e pertencimento, que são temas centrais tanto na clínica quanto na poesia. Foi muito bom lembrar desse episódio, fiquei com vontade de escrever um poema inspirado nessa frase e no seu significado.
Univali | Seu livro fala de perda e ressignificação. Como esses temas se manifestam na sua escrita?
Thamara | A perda atravessa a vida e a poesia é o modo que encontrei de elaborar essas ausências. Perder não é só sofrer; é também abrir espaço para o que pode nascer depois. Escrever é esse gesto de reinvenção. É dizer: “isso me atravessou, mas não me definiu”.
Univali | O que você diria a quem sente vontade de escrever, mas teme se expor?
Thamara | Diria que escrever é um ato de coragem, não porque exige bravura diante dos outros, mas porque nos obriga a encarar o que somos. A escrita nunca está pronta, nunca é definitiva. E talvez por isso ela seja tão libertadora. Deleuze já anunciou: “escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer matéria vivível ou vivida”. Por isso meu recado é: escreva!
Univali | E o que mais te move hoje: a psicologia ou a poesia?
Thamara | As duas se confundem. A clínica me ensina a escutar o outro; a poesia me ensina a escutar o silêncio entre as palavras. Talvez sejam caminhos paralelos que, de algum modo, se encontram no mesmo ponto: o humano.
Serviço
- Livro: Afetos in-versos
- Autora: Thamara Mir
- Editora: M.inimalismos (SP)
- Páginas: 84
- Preço: R$ 45
Próximos lançamentos:
- 07/11 – Festival Literário de Navegantes
- 08/11 – Festival Literário de Itajaí (aguardando confirmação)
- 22/11 – Exposição Futuros Acessíveis, Joinville
Mais informações: www.editoraminimalismos.com


